Papai, qual o segredo da felicidade e da prosperidade do nosso reino?
Indagou o pequeno principe que se preparava para um dia reinar.
Ouvir o povo, providenciar para que nada lhe falte e NUNCA deixar as portas do reino sem guardiao. Se a passagem estiver descuidada, os povos de outros reinos entram.
A cegueira da cobica entra junto, impedindo-os de verem que esta riqueza toda e resultado de horas de trabalho honesto bem administrado.
Cegos, ao inves de aprender com a nossa gente, vao querer possuir o que nos pertence, com isso comecam os saques, a destruicao do patrimonio, as brigas e a morte do maior dos tesouros: o povo.
Mas eis que entre seu proprio tesouro, havia uma sudita que nao se contentava em usufruir das riquezas do reino, desejava possui-las. Para isso criou um feitico para o rei e outro para rainha (que carregava no utero o segundo filho, ou filha) .
A rainha fez beber da agua encantada que aprisionou sua alma em um vale.
Ao rei fez beber do vinho encantado que diminuiu a dor do seu sofrimento e embriagou seus olhos para vissem nela a imagem de sua amada rainha Victoria.
O feitico, porem, nao foi bom o bastante para embriagar o coracao do rei, que por ela nunca se apaixonou, mesmo assim a desposou para nao reinar solitario.
Ela conquistou o direito de reinar sobre o reino, mas nunca reinou no coracao do rei, continuando tao infeliz e invejosa quanto era antes. O que desejava (de verdade) e ela propria nao sabia, era ser amada por seu rei, mesmo que ele fosse apenas um plebeu.
Vendo que o rei se encantava mais com o filho do que com ela, e nao podendo gerar herdeiros pela fragilidade de seu ventre, passou a odiar ao principe.
Queria mata-lo, mas se o fizesse, o rei continuaria o amando, mesmo depois de morto, assim como continuou a amar a rainha Victoria.
Planejou entao, um tipo de morte diferente, a morte da essencia de Mel, pois matando sua essencia o rei nao teria mais motivo para ama-lo.
Para que o feitico tivesse efeito, precisava ter autoriadade moral sobre o principe, entao foi ter com o rei:
Meu rei, sabes o quanto amo ao principe, e ele para mim o proprio filho que nao pude gerar e quero derramar sobre ele todas as minhas bencaos; preciso para isso que me de autoriadade moral de mae.
O rei cedeu...
Meu pequeno principe Mel... (passou a chamar Mel carinhosamente de seu pequeno)
Eu sou o principe Mel. Ja estou crescido. Se meu pai a autorizou a me chamar de "seu", saiba que eu nao!
O principe tinha personalidade, deixava bem claro para a madrastra que ela nao era sua mae!
A madrastra o odiava, escondia seu odio durante o dia e libertava-o a noite. Enquanto o principe dormia, usava de sua autoridade moral para amaldicoa-lo a reinar entre porcos.
Chegando o tempo do principe procurar uma princesa, eis que ele se encantou por uma porca espinhenta e desejou te-la como sua mulher.
Seu desejo era tao forte, que mesmo tendo a pele ferida por espinhos, com ela ele copulou.
Aos poucos, o principe que era doce como mel, foi azedando, ficando imundo em feicao e atitude.
O rei morria de desgosto ao ver que Mel se parecia cada vez mais com um porco.
A madrastra que havia planejado tudo, deu de presente a porca, brincos de perola e disse:
Leve-o daqui para que possam reinar entre os seus.
O principe nao se sentia forte para lutar contra seu destino e foi ser rei dos porcos junto com sua porca de brincos de perola.
Mel aceitou reinar entre os porcos porque nao havia outra alternativa, mas de maneira alguma era feliz. Sentia sua essencia se esvaziando sem nada poder fazer.
A coruja, que observava tudo e tudo sabia, vendo sua aflicao, levou a ele o antidoto.
O corpo e teu reino, precisas manter a guarda alerta, para que os porcos nao o invadam e o transformem num chiqueiro. Errastes ao copular com uma porca. A essencia dela passou a ser tua tambem, e a tua verdadeira essencia foi se perdendo. Precisas fazer com que ela volte antes que se perca de vez e assumas definitivamente a aparencia de um porco espinhento. Vou te presentear com um frasco do perfume encantado, deve ir com ele ate o acude das cachoeiras, onde se banham as donzelas, escolher entre elas a mais bela, aquela com quem gostaria de parecer, esperar que ela esteja so e derramar sobre vos as gotas do perfume que fara com que se encantem um pelo outro.
Dormindo com uma bela mulher, a essencia dela passara a morar em teu corpo tambem, espulsando o espirito de porco.
A porca, que escutava a conversa escondida, se preparava para sabotar os planos de Mel, e para isso pediu ajuda a cobra.
No castelo, o rei, mergulhado em sua cama de tristeza e interrogacoes, tentava entender o porque da desgraca de sua vida.
Eu sei a resposta. (Falou uma voz de crianca)
Quem e voce? (Perguntou o rei)
Sou tua filha, princesa Victoria, vim para que voltes comigo ate o vale das almas. Minha mae te espera. Cuidastes tanto para proteger nosso reino dos invasores de fora, mas nunca viagiastes por dentro. A maldade que vem de fora e facil conter, basta fechar as portas, mas a que mora dentro e perigosa, conhece todos os segredos do reino e sabe se esconder para nao ser encontrada. Veio daqui de dentro a raiz da desgraca de nossa familia.
Devemos nos apressar, libertar a mamae, nos unir novamente e desfazer a maldicao que foi lancada sobre Mel antes que ele se transforme para sempre em um porco.
E assim o espirito do rei se foi enquanto ele dormia.
Ao chegar ao vale das almas, o guardiao alertou que quem passa pelo portao, raramente retorna como entrou. Pode-se entrar rei e voltar porco, pode-se entrar porca e voltar princesa, pode-se entrar duas, tres, quatro ou mais pessoas e voltar so uma. Ou nenhuma. E tudo um grande misterio.
Rei, rainha e princesa novamente juntos, formavam um trio tao forte que nada temiam, deram as maos e sairam pelo portao sem medo da forma que assumiriam. Durante a passagem, aconteceu o que o gardiao alertou, e nao retornou rei, rainha nem princesa.
No acude das cachoeiras, Mel se preparava para abrir o frasco do perfume, mas eis que se aproximou a cobra entre as pernas da donzela. Se abrisse o frasco, poderia encanar a cobra, entao permaneceu quieto pensando numa forma de retirar a cobra, sem ferir a moca.
A porca apareceu. Pediu a Mel que derramasse o perfume sobre eles, pois assim se apaixonariam mais ainda, ele logo seria porco de verdade, logo nao sofreria mais e a cobra deixaria a moca viver.
Nao havia ninguem para auxilia-lo a decidir o que fazer naquele momento tao dificil. A seu favor tinha apenas a propria sorte. Olhou para o ceu, como se pedisse ajuda ao imenso azul sobre sua cabeca quando viu se aproximar velozmente uma grande aguia que acertou certeira a cobra e libertou a moca.
A porca desesperada, pulou sobre Mel para roubar o perfume. Mel, para nao se deixar ser roubado, jogou o frasco com toda sua forca para o alto. A aguia voou para salvar o frasco. Antes que o alcancasse, a tampa do vidro se abriu derramando o perfume sobre as asas da aguia e a cabeca de Mel.
O amor que havia entre eles era contagiante, indissoluvel, perfeito, dispensava a copula. O perfume foi apenas um elemento a mais a unir uma familia que teve a felicidade furtada pelos encantos de uma pessoa invejosa. Desse amor, fabricaram uma essencia que chamaram de "o maior amor do mundo".
O principe Mel, montado em sua aguia (que na verdade eram seu pai, sua mae e sua irma) passou entao a sobrevoar o mundo levando a essencia do amor a todo homem e toda mulher que tivesse o coracao infeliz por te-lo unido ao de um porco (a) espinhento (a), numa relacao que fere, machuca, mas da qual nao e possivel se libertar sem uma dose concentra de amor. Amor por si.
So quando ha amor por si, amor proprio, e que comeca o maior amor do mundo, e e este amor que nos proteje e nos impede de unir nossos corpos, aos corpos de porcos (as) espinhentos (as).
Adilma Nascimento
"Mas agora quero ver se consigo prender o que me aconteceu usando palavras. Ao usá-las estarei destruindo um pouco o que senti."
